Ilha do Cardoso: geografia e trekking
admin | 6 de abril de 2008Entre o litoral norte do Paraná e litoral sul de São Paulo existe um cinturão verde que poderíamos chamar de uma verdadeira “barreira ecológica”.
A “barreira” começa na Reserva Ecológica da Ilha do Mel, passando pelo Parque Nacional do Superagui, Parque Estadual da Ilha do Cardoso, APA Estadual e Federal da Ilha Comprida, APA Federal de Cananéia, Iguape e Peruíbe, terminando na Estação Ecológica da Juréia – Itatins.
A região do Lagamar como é conhecida estende-se por uma faixa litorânea de 200 km, que vai de Paranaguá (PR) até Peruíbe (SP).
Considerada pelos cientistas como uma das áreas de conservação mais importantes da Terra é composta por Mata Atlântica, manguezais, restingas, estuários e lagunas.
Para entender a formação do Lagamar é preciso voltar no tempo alguns milhares de anos atrás. A Serra do Mar, que praticamente cerca o Lagamar pela parte continental é coberta por Mata Atlântica e apresenta altos índices de pluviosidade. Os vários rios que descem da serra vieram ao longo do tempo depositando os seus sedimentos (lamas e areias) na parte baixa dando origem aos exuberantes manguezais como também a formação de ilhas sedimentares tais como a das Peças e Superagui no Paraná como também a Ilha Comprida em São Paulo.
A Ilha do Cardoso porém, é de um tipo diferente. O seu relevo interior é montanhoso e em vários pontos notamos a presença de picos rochosos. Isto significa que um dia a Ilha do Cardoso já foi parte integrante da Serra do Mar. Com o movimento de transgressão (subida) do Oceano Atlântico ela ficou isolada, tornando-se uma ilha.
A Ilha do Cardoso pelas suas condições excepcionais de beleza e conservação foi transformada em PE – Parque Estadual “área de extensão considerada, necessariamente do poder público, com riqueza de espécies. Sítios geomorfológicos ou habitats de interesse cientifico, educacional ou recreativo. Pela legislação, devem esta abertos a visitação pública, para fim de lazer e educação ambiental. Podem ser criados pela União ou pelos Estados”.
A Ilha tem uma área de 140km2, sendo que 90% dela coberta de Mata Atlântica. A predominância de vegetação de Mata Atlântica é explicada justamente por sua origem que produziu solos mais ricos propícios a este tipo de vegetação mais densa, ao contrário das outras ilhas com solo predominantemente arenoso próximos ao Oceano (restinga) e lodosos no interior onde se fixaram os mangues.
Mas a Ilha do Cardoso, além da exuberante Mata Atlântica que domina grande parte da ilha, chegando em alguns pontos a competir com os costões rochosos e chegar até bem próximos ao mar tem também sua faixa de vegetação de restinga na parte oceânica como também manguezais nos canais interiores que a separam do continente.
Para conhecer os três ecossistemas dominantes na Ilha do Cardoso (Mata Atlântica, mangue e restinga) o ideal é começar pela viagem de Cananéia até a Vila de Marujá, a “capital” da ilha. São 3h30m de barco por entre manguezais que em nada devem aos da Baia de Paranaguá, Laranjeiras, Pinheiros ou Mar Pequeno. De Cananéia ao Marujá temos uma mostra típica do que sejam os espetaculares mangues do Lagamar.
Nesta viagem de barco podemos perceber que a vida social da região desenvolve-se dentro desses canais e não no Oceano. Uma imensa estrada de água, que vai de Paranaguá até a foz do rio Ribeira do Iguape, cortada por infinitos outros menores (os canais) pode ser navegada, lembrando em vários aspectos a região Amazônica. É ali que encontramos vilarejos ou cabanas de caiçaras que cruzam os canais em suas embarcações para ir pescar, entregar o peixe na cidade mais próxima e fazer compras como também “ir à missa” ou mesmo professar sua fé carregando o santo, tocando rabeca e fazendo suas cantorias na Festa do Divino.
Chegando a Marujá, esta simpática vila de pescadores, podemos nos hospedar em modestas mais aconchegantes pousadas e traçar os planos para explorar a parte oceânica da ilha.
Aqui vale um alerta! A parte interior da ilha que é montanhosa e totalmente tomada pela Mata Atlântica é praticamente inexplorada (desconhecida). Se é que existe alguma trilha, elas devem ser conhecidas por pouquíssimos nativos e por tanto não é aconselhável aventurar-se por elas desacompanhado.
TREKKING
Para os praticantes do trekking (lembrar que na ilha na há veículos!) duas opções:
De Marujá até a Barra do Ararapira (PR):
São 15 km por uma única praia plana, de areia batida e completamente deserta. Na verdade a praia é uma imensa restinga, tanto a nível geomorfológico (ou seja, da sua formação) como também da vegetação. A restinga fica entre o mar e o Canal de Ararapira. Ali, como na Ilha Comprida, podemos ter uma mostra significativa da vegetação de restinga. O aconselhável é fazer a caminhada em um dia pois há a necessidade de atravessar a Barra do Ararapira de barco, pernoitar na vila e retornar no dia seguinte. Podendo-se optar entre a volta a pé ou de barco.
De Marujá até Cananéia (SP):
Os mais preparados fisicamente podem até fazer o trajeto em um dia, mais o ideal é fazer em dois, pernoitando na praia de Camboriú e deliciando-se com uma das paisagens mais belas do litoral brasileiro. De Marujá até Camboriú temos as praias de Morretinho, Laje, Fole Grande, Fole Pequeno e Kayan que são separadas por costões rochosos. O visual é imperdível; à direita o Oceano Atlântico que conforme seu humor quebra suas fortes ondas nas alvas e finas areias da praia. À esquerda, imponentes montanhas cobertas pelo verde da Mata Atlântica intacta. Na praia do Camboriú dê uma parada para descansar e ganhar forças para o dia seguinte que é bem mais puxado. Mesmo assim não deixe de ir a prainha do Kayan (15 min) entre Camboriú e o Fole Pequeno, de onde se tem uma vista privilegiada da ilhota do Cação, que nos faz retornar ao tempo dos piratas. De Camboriú, passando por Ipanema até Itacuruça a trilha é por entre costões rochosos e a Mata Atlântica. Depois, pela praia até o Pereirinha, de onde se toma o barco para Cananéia, é tranqüilo. Atenção! Se o tempo não estiver bom e o mar batendo muito aconselhamos esperar ou então retornar para o Marujá. Se receber um convite para ir de barco lembre-se que até Ipanema irá ladear os costões rochosos e quando passar pelas rochas e tudo parecerá está bem, estaremos entrando na praia de Itacuruça onde bancos de areias fazem levantar ondas enormes e sem direção. Para chegar às águas calmas e abrigadas de Cananéia é preciso atravessar uma ponta que recebe o sugestivo nome de Ponta do Perigo! Aventuras à parte, vários naufrágios com perdas humanas já ocorreram no local. Cuidado!
Comentários