Ilha Grande: natureza selvagem bem preservada!
admin | 8 de março de 2008Pouca gente pode imaginar que entre o Rio de Janeiro e São Paulo, os dois maiores centros urbanos do Brasil, podemos encontrar um lugar tão belo e selvagem como a Ilha Grande.
Os índios tamoios, seus primeiros habitantes, a chamavam de “Ipaum – guaçu”. Com 193 km2, 155 km de litoral e 106 praias este santuário ecológico composto por Mata Atlântica, manguezais, praias, rios com regatos, lagoas, restingas além de alguns picos rochosos foi transformado em APA (área de proteção ambiental).
Um dos fatores que mais contribuíram para o isolamento da Ilha Grande e por sua vez por seus mistérios e preservação foi a distância do litoral. São 12 milhas da costa de Angra dos Reis, sua ligação mais freqüente com o continente.
A ilha, que um dia fez parte do complexo da Serra do Mar, já foi ligada ao continente. Um processo de transgressão (subida) do Oceano Atlântico “afogou” grande parte da região e o que é hoje a Ilha Grande ficou isolada. O interior da ilha, que é montanhoso, é composto por alguns picos rochosos tais como o da Pedra D’água (1030m), do Papagaio (990m), e do Ferreira (740m). Estes picos, que podem ser alcançados por trilhas em meio à Mata Atlântica são excelentes pontos para termos uma vista panorâmica da ilha.
Tanta natureza a ser preservada fez com que a totalidade do território da Ilha Grande (193 km2) se tornasse uma APA. Além da APA que cobre toda a ilha, também um Parque Estadual e uma Reserva Biológica foram criados para dar sustentação a projetos de preservação dos ricos ecossistemas ali existentes.
Reservas biológicas são áreas de tamanhos variáveis, que se caracterizam por conter ecossistemas ou comunidades frágeis de importância biológica, em terra de domínio público e fechadas a visitação pública podendo ser declaradas pela União ou pelos Estados.
A RBEPS (Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul) criada em 02 de dezembro de 1981 esta localizada na parte sudoeste da ilha e compreende uma área de 3600 ha., quase ¼ da área total da ilha.
A RBEPS é coberta em quase sua totalidade pela Mata Atlântica, rica em espécies e uma das mais ameaçadas do país, não restando mais do que 10% de sua área original no estado do Rio de Janeiro.
A grande diversidade de flora e fauna é devida à diversidade de ambientes gerados pela mesma Mata Atlântica e seus ecossistemas associados, que no caso da RBEPS são: lagoas, manguezais, restinga e costões rochosos.
As duas lagoas existentes na reserva recebem tanto águas dos rios que descem da montanha como também do mar na maré cheia. Dos rios provem a lama que formara o solo indispensável à existência de vegetação que circunda as duas lagoas locais (Lagoa do Leste e do Sul), o mangue. Estas lagoas, circundadas pela vegetação de mangue formam verdadeiros berçários para a vida marinha, contribuindo assim para a piscosidade tanto das lagoas como do mar.
A vegetação de restinga, que ocupa a planície arenosa, com uma área de aproximadamente 800 ha., apresenta vários tipos de formações vegetais, desde ambientes mais úmidos onde crescem arvores de até 20 m até ambientes mais secos como a vegetação mais próxima às praias que são constantemente atingidas pelos ventos que sopram do mar deformando-as.
Na RBEPS encontramos uma raridade digna de ser mencionada e cultuada como exemplo. É o Rio Capivari, talvez o único do Estado do Rio de Janeiro que apresente, desde sua nascente até sua foz, águas completamente livres da atividade humana e, por conseguinte de qualquer espécie de poluição. O Rio Capivari, que nasce nas partes mais altas e inacessíveis da Ilha Grande corre por entre encosta coberta de Mata Atlântica formando regatos de rara beleza.
Para além da beleza (estética) que emana de todos os ecossistemas da RBEPS, sua preservação representa a garantia de potencial genético para a reconstituição de flora e fauna de outras áreas litorâneas ameaçadas de extinção. Até o momento, foram identificadas cerca de 500 espécies vegetais, algumas delas até então desconhecidas pela ciência!
A sede da RBEPS construída em 1986 com apoio do WWF localiza-se na praia do Aventureiro e a sua administração fica a cargo da FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente). Ali, há um pequeno vilarejo, a Vila do Aventureiro, habitado por pescadores que vivem da pesca artesanal e da lavoura de subsistência.
Projeto MAQUA: mamíferos aquáticos
O projeto Mamíferos Aquáticos (MAQUA) desde 1992 vem realizando atividade de pesquisa e conservação de Cetáceos (botos, golfinhos e baleias) no litoral do estado do Rio de Janeiro. As atividades consistem na observação dos mamíferos marinhos em ambiente natural, estudo em laboratórios e em trabalhos de educação ambiental com comunidades costeiras. Os estudos, inicialmente desenvolvidos na Baia de Guanabara e Região dos Lagos foram estendidos a Ilha Grande.
O Projeto MAQUA iniciou seus trabalhos na Ilha Grande em 1993 e em 1995 foi instalada a Sede Avançada do Projeto MAQUA na Ilha Grande. Objetivo do projeto é determinar as espécies de cetáceos que ocorrem na região, bem como a interação destes com a população local.
O trabalho de pesquisa é acompanhado por um Programa de Educação Ambiental cuja meta é a conscientização da população sobre a importância da preservação dos cetáceos bem como dos ecossistemas costeiros.
Ilha Grande – Trekking
Tanto a circulação de veículos como a prática do camping selvagem é proibida na Ilha Grande. Mas apesar das proibições, que são compreensíveis se o intuito é o de preservar a natureza, a ilha nos oferece uma vantagem. Ela é muito bem servida de trilhas (algumas são verdadeiras “estradas” em meio da Mata Atlântica) e é possível contorná-la em apenas quatro dias.
A parte leste até a praia de Lopes Mendes, saindo bem cedo, pode ser feita em um dia. Partindo da Vila do Abraão sobe-se um morro e na descida já encontramos a Praia Grande das Palmas e a do Mangues, todas de águas bem calmas. Cruzando novamente o morro e lá esta a praia de Lopes Mendes, preferida dos surfistas. O ideal é, para quem não tem uma pousada garantida na Praia de Dois Rios (onde ficava o Presidio agora demolido), voltar para a Vila do Abraão, pernoitar e sair no dia seguinte bem cedo.
Por uma antiga estrada de terra, bastante avariada, chega-se em duas horas, por entre morros, à praia de Dois Rios. Dali segue-se ainda por entre morros, em meio à Mata Atlântica até Parnaioca, e dali toma-se fôlego por que são mais 6 km por dentro da RBEPS (quatro deles pelas areias das Praias do Leste e do Sul) até a Vila do Aventureiro. Ali há possibilidade de se conseguir um abrigo e prosseguir por entre morros até Provetá, uma vila habitada em sua grande maioria por uma comunidade religiosa.
Reponha as energias e novamente por entre morros chega-se à praia de Araçatiba. Agora, que atingimos as águas mais calmas da Ilha Grande (parte noroeste) há a possibilidade de pegar um barco com os pescadores e ir até a Freguesia de Santana, onde foi edificada a primeira vila da ilha e ainda resta a Igreja (1796).
Para os mais dispostos, mais uma caminhada por entre morros, praias de águas mansas e esverdeadas, como Saco do Céu, por exemplo, até a chegada na Vila do Abraão.
Atenção! Toda a Ilha Grande pode ser contornada por trilhas muito bem conservadas. Mas, a empreitada exige fôlego e como há necessidade de pernoitar em meio o caminho jamais, em hipótese alguma, faça a expedição sozinho. Consulte um nativo, um guia local, que sua caminhada vai ser bem mais segura e proveitosa!
Aprendi muito