Cabo Frio e Arraial do Cabo: sal e sol!
admin | 1 de março de 2008Cabo Frio pode ser considerada a “capital” da região dos lagos fluminense, tanto pela sua infra-estrutura como pelas suas belezas naturais.
Além de Cabo Frio uma outra cidade bem próxima ajuda a completar este cenário de rara beleza. É Arraial do Cabo, uma antiga aldeia de pescadores cercada de natureza por todos os lados.
Na região encontramos ecossistemas (praias, restingas, dunas, ilhas, costões rochosos e lagoas), paisagens criadas pelo homem (salinas e sambaquis) como também o curioso fenômeno da ressurgência.
Os costões rochosos onde estão localizados Cabo Frio e Arraial do Cabo (Pontal do Atalaia) foram os pontos aglutinadores para que as correntes marinhas e os ventos fossem depositando ao longo desses milhares de anos areias que viriam a formar o que hoje chamamos de Praia do Forte, Dunas e Foguete.
As ilhas, como a de Cabo Frio, dos Porcos, Papagaio, Comprida, Pargos, entre outras, nada mais são do que picos rochosos de antigas montanhas que com o movimento de transgressão (subida) do mar foram submergidas deixando à monstra na superfície estas ilhas.
A região é bem conhecida pelas suas águas verdes – azuis transparentes, o que pode ser explicado por três motivos:
1) observando no mapa percebemos que desde a Baia de Guanabara até Barra de São João (Rio – São João) não encontramos nenhum grande rio que deságüe nessas praias. Isto significa que pouco sedimento (barro) é transportado para o fundo do mar, fazendo com que as águas da região fiquem mais claras.
2) a região é basicamente composta por rocha cristalina cuja decomposição forma areia, ou seja, estas tornam as águas bem menos turvas que o barro.
3) O mar na região é bem mais profundo tornando a possibilidade desses sedimentos serem removidos e de escurecer menos as águas.
Mas as águas verde-azuis são bastante conhecidas também por uma característica que para alguns não é tão agradável. O frio!
Um fenômeno natural chamado de ressurgência ocorre na costa de Cabo Frio e Arraial do Cabo. São águas frias que vem das profundezas do oceano até a superfície. São ricas em nutrientes e extremamente importantes para o crescimento de organismos marinhos, principalmente os peixes. A existência das águas frias nesta região faz com que ocorra um grande número de espécies marinhas.
Mas, Arraial do Cabo, que sempre foi conhecida como uma produtiva vila de pescadores tem visto o seu peixe desaparecer. A responsabilidade é por conta da pesca predatória praticada por barcos industriais a menos de três milhas da costa (área de pesca artesanal).
Por este motivo foi criada a RESEX (reserva extrativista) de pesca artesanal marinha de Arraial do Cabo. O objetivo principal e proteger os pescadores artesanais e combater a pesca predatória dentro dos limites da RESEX.
Com a RESEX espera-se preservar a população tradicional de pescadores locais como também a qualidade de vida destes pescadores e de suas famílias.
As águas frias são responsáveis também (indiretamente) por um fenômeno humano muito peculiar a esta região que são as salinas.
Verificando no mapa, observamos que a ligação entre Cabo Frio e Arraial do Cabo é feita por uma “restinga” bem mais larga do que aquela que liga Arraial do Cabo a Saquarema (Massambaba). Ali, estão localizadas as maiores salinas da região.
Ora, as salinas necessitam de pelo menos quatro fatores para que elas ocorram (se instalem): 1) águas rasas e abrigadas; 2) alta temperatura; 3) pouca chuva; 4) ventos constantes.
A região é perfeita para isso já que a Lagoa de Araruama é muito rasa e obviamente abrigada do mar pela restinga.
As três outras condições estão praticamente interligadas. Como sabemos, o vento é o ar em movimento, e ele sopra sempre das AP (altas pressões) – frio para as BP (baixas pressões) – quente. Sendo assim a diferença de temperatura do mar (frio) para o continente (quente) provoca na região ventos fortes e constantes (nordeste) que ajudam na evaporação das salinas. A região tem um índice pluviométrico muito baixo que também favorece as salinas, já que o excesso de chuva atrapalha a produção do sal.
Mas, as belas e poéticas paisagens das salinas, com seus cercados, cataventos e montanhas de sal estão por desaparecer da região já que o setor está em crise e não pode competir com a especulação imobiliária.
Um outro fenômeno natural de grande beleza, e também altamente ameaçado pela especulação imobiliária, porém, resiste!
São as dunas, marca registrada de Cabo Frio e Arraial do Cabo.
As dunas se formam em conseqüência da deposição de areias pela ação do vento. Cada formação de duna é correspondente às características geográficas de cada lugar. Sua formação pode depender da força e direção dos ventos, das correntes marinhas, da localização da área atingida como também de fatores relacionados à ocupação humana, quando se provoca um desmate, por exemplo.
A ocupação desordenada tanto da restinga como das dunas pode provocar uma perda irreparável de uma relíquia arqueológica inestimável, os sambaquis.
O litoral brasileiro foi ocupado por grupos humanos (indígenas) desde cerca de 6000 anos AC. (antes de Cristo). Grupos sucessivos percorreram a costa brasileira fixando-se temporariamente à beira – mar até a época do Descobrimento. Concentravam-se de preferência em áreas com recursos naturais abundantes. Pescavam, coletavam mariscos e vegetais e também caçavam. Os sambaquis – tambá (concha) e ki (depósito) em tupi-guarani – são a prova concreta da passagem desses grupos de pescadores, coletores e caçadores pela região, principalmente na Restinga de Massambaba, que liga Arraial do Cabo a Saquarema.
Os sambaquis são pequenas elevações formadas por tudo aquilo que indique evidência da ação do homem. São restos alimentares animais (carapaça de moluscos, pinças de crustáceos, ossos de animais) e vegetais (sementes). Esqueletos humanos, utensílios de pedra, ossos, conchas e cerâmica além de restos de fogueiras também são componentes dos sambaquis.
A partir destes restos materiais podemos reconstituir como viviam estas sociedades primitivas já desaparecidas. Os estudos desses sambaquis são interdisciplinares envolvendo desde arqueólogos até zoólogos.
Estes estudos objetivam responder à seguinte questão. Como viviam estes povos e como era o ambiente pré-histórico?
Entendendo o nosso passado talvez possamos encontrar algumas chaves para o nosso futuro.
No caso dos sambaquis a questão da preservação é mais dramática. Um monumento arquitetónico pode ser reconstituído, recuperado, já um sambaqui não, sua perda é irreparável!
Projetos de pesquisa e preservação são desenvolvidos pelo Museu Nacional – Universidade Federal do Rio de Janeiro – nos sambaquis da Restinga de Massambaba.
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