Trekking na Guarda do Embaú
admin | 20 de abril de 2008Depois de uma estada em Garopaba e nas belas praias da região era o momento de conhecer a tão falada Guarda do Embaú. A caminhada em direção ao norte, em princípio, foi bem tranqüila até nos defrontarmos com um obstáculo intransponível. Era a Ponta da Gamboa, um morro de dimensões consideráveis que penetrava mar adentro impedindo a passagem. Logo entendemos que a moleza havia acabado e então saímos da praia em busca de informações sobre trilhas que nos levassem ao outro lado, na praia da Gamboa propriamente. Nossa experiência dizia que sempre que há um obstáculo os pescadores nativos fazem trilhas por dentro para o melhor acesso. Sendo assim não nos importamos tanto em pedir informações e seguimos em frente, ou melhor, morro acima, naquela que achamos ser a melhor trilha. À medida que subíamos a paisagem se tornava cada vez mais deslumbrante. Era mês de maio, o chamado “veranico de maio” de Santa Catarina e o sol ainda estava bem forte brilhando no céu azul. Várias vezes paramos para contemplar aquele mar estupendo como também a prometida Guarda do Embaú, não muito longe dali. Em certos momentos as trilhas terminavam em matagais que com certeza não eram o caminho ideal para atravessar a Gamboa. Numa destas saídas nos deparamos com um pasto imenso onde o gado ao que tudo indica não via gente há muito tempo. Sem alternativas tivemos de atravessá-lo em meio aos bois que nos seguiram de perto, cheirando aqueles seres extraterrestres que levavam nas costas mochilas de cores espalhafatosas (laranja e lilás). Com os bois nos nossos calcanhares seguíamos cada vez mais rápido até que a travessia tornou-se uma verdadeira corrida – nossa e dos bois! Tivemos de entrar novamente no matagal, agora sem os bois, para logo descobrirmos que estávamos, apesar do belo visual da Guarda, perdidos. Não houve alternativa se não refazer todo o caminho de volta até a base do morro para aí então, humildemente, pedir informações a um nativo. Perdemos quase três horas nesta travessia mal sucedida, mas valeu pelo visual diferenciado e pela companhia de nossos amigos bois. Transposta a Gamboa tivemos de fazer ainda 6 km de areia grossa até a Guarda do Embaú. A vila tem uma localização estratégica e para alcançá-la temos de atravessar o rio da Madre. Bacamarte, um nativo da região foi quem nos atravessou numa pequena canoa e acabou por virar o nossa guia. Muito tímido, só aos poucos foi se abrindo e mostrando as belezas do lugar. Primeiro fizemos uma incursão pelo rio da Madre, de águas cor de mel, mas límpidas. Na foz, na margem norte, a proximidade com o Morro do Urubu e a vegetação de mata atlântica faz do visual um dos cartões postais da Guarda. Bacamarte, acostumado a ser guia de turistas não muito bem preparados fisicamente nos propôs meio céptico de subir o Morro do Urubu, onde ele dizia haver o melhor visual da região. Como o dia estava muito bonito e não queríamos arriscar uma chuva no dia seguinte topamos. Apesar de já termos feito o Morro da Gamboa estávamos ainda plenos de adrenalina e demos início à empreitada. Bacamarte ia à frente, a passos largos. Mesmo com as mochilas nas costas não fraquejamos e à medida que subíamos o visual ficava cada vez mais chocante. Agora, lá do alto, era o morro da Gamboa que nos víamos. Sempre andando pela mata atlântica víamos entre as brechas que o visual era estupendo até que chegamos ao topo. Todo o esforço físico foi compensado por aquela paisagem paradisíaca. Era uma tarde morna, não ventava, e o canto dos pássaros podia ser ouvido com mais nitidez. Ficamos ali por um bom tempo contemplando o pôr do sol. Finalmente Bacamarte quebrou o silêncio e comentou que tínhamos um bom preparo físico, disposição. Foi então que explicamos a ele que vínhamos do Chuí, a pé, e que naquele mesmo dia já havíamos feito a Gamboa. Ele sorriu, mansamente, achando que estávamos brincando com ele, que não era verdade. Já escurecia quando descemos e então na vila mostramos revistas e jornais que falavam do nosso projeto de conhecer todo o litoral do Brasil a pé. Meio maravilhado, Bacamarte então apresentou-nos a parentes e amigos, na sua maioria jovens surfistas que freqüentam a Guarda. Fomos dormir bastante cansados, mas satisfeitos com aquele dia tão intenso. No dia seguinte, acordamos com um forte vento sul que trouxe a chuva e o frio. Sentados junto de nossos amigos surfistas, agasalhados e tomando um chocolate quente, curtíamos aquele frio, pois sabíamos o quanto havíamos ganhado no dia anterior.
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