Pipa, a praia dos livros e da consciência ecológica.
admin | 26 de outubro de 2007Continuando nossa viagem, agora o destino era a Praia da Pipa, no município de Tibau do Sul. Diego, o guia turístico, nos confirmou uma verdade da qual já suspeitávamos: os pescadores antigos da região venderam suas terra por quase nada, agora vivem de pequenos trabalhos e seus filhos já não pescam mais. Diego nos confessou que seu avô vendeu suas terras por uma moto e uma garrafa de cachaça e hoje ele é guia por não ter outra opção.
Conhecemos Cinthia no restaurante de uma amiga capixaba. Grande figura, saiu de sua casa em Porto Alegre ainda muito nova, viveu em Ouro Preto – MG, depois em Manguinhos – ES (que conhecemos desde os anos 80) e de lá foi para a Europa, onde descobriu a droga e por sua vez o vício. Voltou ao Brasil e foi presa por tráfico em Fortaleza, onde ficou três anos em reclusão. Durante esse tempo, resgatou um hábito que não praticava desde os tempos em que vivia com a família: ler! Assim, quando saiu da prisão, mudou-se para a Praia da Pipa e montou o Book Shop, uma livraria diferente que incentiva o intercâmbio cultural através dos livros. Hoje uma das pessoas mais cultas e admiradas de Pipa, Cinthia nos contou que na prisão “aprendeu” muito. E deixa uma observação no mínimo interessante: as escolas, do jeito como as conhecemos, são como uma cela de cadeia – janelas pequenas, muitas paredes e alguém gritando na frente. Foi um dos momentos mais enriquecedores da viagem.
No dia seguinte fomos conhecer o David Maurice e seu Santuário Ecológico, um lugar belíssimo, todo preservado. David é um ambientalista inglês que mora no Brasil há mais de 20 anos e ama de paixão nosso país. Ele nos conta que acha muito triste o que está acontecendo com o litoral do Brasil, especialmente no Rio Grande do Norte, cuja costa já foi praticamente toda vendida, em suas palavras, “como se vende um boi para o abate, cortando o animal em pequenos pedaços”. É ainda com pesar que ele observa que grande parte deste litoral foi vendido para grupos europeus, e que muitos de seus conterrâneos não compartilham do mesmo sentimento de preservação ambiental. Falou também das fazendas de camarão e do impacto ambiental que estas causam, principalmente nesta região onde existem rios com mais de 70 criadouros. O fato é que para desenvolver tal cultura usam-se diversos produtos químicos nocivos ao ambiente e, conseqüentemente, os mangues morrem e os rios são inevitavelmente assoreados.
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