Brasil Passo a Passo

Glênio Cedrim, presidente da ABIH-AL fez uma explanação de como anda o turismo em Alagoas, principalmente no litoral, e fez algumas considerações sobre “desenvolvimento” e “preservação”. Sua posição sobre a ponte entre Porto de Pedras e Japaratinga pareceu-me bem lúcida. A ponte pode ser feita, mas não precisa necessariamente ser construída ali na boca da barra, descaracterizando o bucolismo de Porto de Pedras. Construída um pouco mais rio acima seria proveitosa para a comunidade e não mataria a “galinha dos ovos de ouro” da região que é tanto a paz de Porto de Pedras como a delicadeza do Peixe-Boi e o charme da Pousada do Toque.

Na Pousada do Toque, os proprietários Nilo e a esposa Gilda recebem gente de todo o Brasil e exterior vendendo não mais “qualidade total” nem “serviço diferenciado” mas sim o que Nilo chama de “Encantamento!” . Na Pousada do Toque não há placas, não há check-in, não há horário para o café da manhã, não se assina nada e principalmente não há sala de musculação! É um convite à preguiça. Quem trabalha na pousada é chamado pelo nome e estão sempre com um sorriso no rosto. Na linha de frente o Dedé e o JR, que anunciam quando servem os saborosos pratos “Abram-se as cortinas porque vai começar o espetáculo…”

O rio Manguaba divide os municípios de Japaratinga de Porto de Pedras. Duas realidades bem diferentes; enquanto a primeira já experimenta as conseqüências do crescimento desenfreado de Maragoji, a segunda ainda conserva a tranqüilidade das velhas vilas de pescadores que aos poucos vão desaparecendo do litoral brasileiro. Comenta-se que o prefeito de Porto de Pedras pretende construir uma ponte ligando-a a Japaratinga. Vai ser o fim desta “ilha” de paz e harmonia que tem como limite sul o rio Camaragipe.

Povoados como Tatuamunha, Porto da Rua, São Miguel dos Milagres e Camaragipe abrigam desde a residência do delicado e quase extinto Peixe-Boi como nos relatou um dos maiores especialistas na área, Seu Cara Velha, até algumas das pousadas mais charmosas do litoral brasileiro.

Fernando de Noronha

Hotelaria
Pousada Mabuya
R. Major Costa, 124 – Vila do Trinta
Fone: 81-3619-1205
Email: pousadamabuya@yahoo.com.br
www.pousadamabuya.com.br

Pousada Ocean Atlântica
R. Major Costa, s/n – Vila do Trinta
Fone: 81-3619-1151
www.karitas.com.br/ocean

Restaurante
Restaurante da Edilma
R. São Miguel, 17 – Vila dos Remédios
Fone: 81-3619-1237
Email: restaurantedaedilma@yahoo.com.br

Tamandaré

Hotelaria
Sítio da Prainha
Praia dos Carneiros
Fone: 81-3676-1498
Email: bangalosdaprainha@hotmail.com
www.sitiodaprainha.com.br

Criaram uma APA para proteger desde a Praia de Guadalupe ainda em Pernambuco até Paripuera em Alagoas. Carneiros, na foz do Rio Formoso, é praticamente uma praia de rio que devido à influência do mar tem suas águas sempre verdes e tranqüilas. Do outro lado do rio, Guadalupe, sofre pressões (a liminar da liminar da liminar…) para abrigar grandes empreendimentos turísticos. Ao sul de Tamandaré, na Praia do Porto (já no Barreiros), um projeto estrangeiro para a construção de 4.000 casas! Sim, 4.000… Com campo de golfe e tudo! A chefa da APA de Guadalupe, Iara Sommer questiona como é que vai ficar a questão da água, da luz e principalmente do saneamento básico.
Quer saber mais? Fale com a Iara Sommer:
APA de Guadalupe – Av. José Bezerra Sobrinho, 1099 – Loteamento Alvorada
Tamandaré – PE – Fone: 81-3676-1177

Tal como Búzios, Praia do Forte, Arraial da Ajuda entre outras vilas ao longo do litoral brasileiro que se tornaram mini-cidades, Porto de Galinhas tem seu charme e também problemas como o crescimento desordenado e tudo aquilo que este pode acarretar. O ritmo da vila-cidade era tão intenso que não conseguimos falar com ninguém em nossa estada.

O único toque que eu daria para uma pessoa que fosse a FN, principalmente de agosto a novembro, seria o de fazer uma caminhada da Praia do Cachorro até a Baia do Sancho. Acorde cedo, mochilinha básica e caminhe sem pressa, se possível por todo o dia, por todas as praias (sem adjetivos) do chamado Mar de Dentro. Depois sim, analise guias, revistas, artigos e comprove que você estava mesmo no Paraíso.

É claro que FN é toda “ambiental”. Além de ser um Parque Nacional é também uma APA. Entrevistamos tanto o chefe do PN como o da APA e ficou muito claro que o maior problema ali é de espaço. A ilha tem 26 km² (9 km de comprimento por 3 km de largura) e sofre com o assédio de turistas e de “empresários” do setor imobiliário como também do próprio crescimento da população local. Além das praias, dos golfinhos, do pôr-do-sol, das caminhadas, dos forrós e das palestras no Projeto TAMAR-IBAMA FN tem também alguns personagens interessantes de conhecer. Seu Davi, 75, nascido e criado na ilha fez um histórico, mostrando que FN sempre esteve muito ligada à questão militar e que ele quando jovem nem percebia a beleza que o rodeava.

Mais recente na ilha, vá tomar uma cerveja e bater um papo (Au! Au!) com o Cachorrão lá na Praia do… Cachorro!

Para saber mais sobre o PN de Fernando de Noronha, entre em contato com:

Marcos Aurélio da Silva – Chefe do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha
Al. Boldró, s/n – Fernando de Noronha – PE – 53.999-000.
81-3619-1128

Recife é onde mora o nosso fotógrafo Canário. Ficamos hospedados no apartamento dele, que na realidade é em Piedade, Jaboatão dos Guararapes. Lá o mar está avançando sobre os prédios. Ou melhor, será que os prédios é que avançaram para o mar?
Ainda em Recife estivemos em Brasília Teimosa, bairro que tem este nome desde a construção da capital brasileira. Só que ali a polícia demolia as casas de dia e os moradores as reconstruíam à noite. Ficou então conhecida assim: Brasília Teimosa, como explicou o nosso amigo Wilson, líder comunitário local.
Não poderíamos deixar de ir até o Parque das Esculturas. Local imponente com imensas esculturas de Francisco Brennand, onde se pode admirar além das esculturas, toda a beleza do Recife Antigo. Recife é uma cidade cortada por dois rios: o Capibaribe e o Beberibe, que se juntam para formar o Oceano Atlântico, brincadeira de pernambucano que alguns levam a sério.

Chegamos a Olinda numa tarde bastante ensolarada… Queríamos tomar uma cerveja na bodega do Véio e conversar sobre o dia-a-dia dos boêmios e artistas da cidade. E lá estava o Véio, com seu sorriso tímido e astral lá em cima. O bom papo mundano, digamos assim, foi regado a cerveja bem gelada. Depois fomos conversar com D. Gerardo, o padre mais velho de Olinda, que cuida do Mosteiro de São Bento. Ouvimos toda a história dos beneditinos no Brasil e um pouco da história “religiosa” de Olinda. Tarde morna e agradável! Viva Olinda!

Chegando a Pernambuco, fomos direto para a Ilha de Itamaracá, que nos anos 70 ficou conhecida por conta de uma cantora de ciranda chamada Lia de Itamaracá. Os versos da ciranda mais conhecida eram estes: “esta ciranda quem me deu foi Lia que mora na Ilha de Itamaracá”.

Na Ilha fomos visitar o forte Orange, imponente construção holandesa do século XVII que fica em frente à Coroa do Avião, um banco de areia a alguns metros da praia, povoada por várias espécies de pássaros. No Forte encontramos com o Zé Amaro, ex-presidiário que foi morar ali quando saiu da prisão e que está por lá até hoje. Ele nos contou sua história de vida e de luta para preservar o Forte. Zé Amaro nos relatou o período em que esteve na prisão, e disse que depois de sua saída, em todas as casas que mora não usa fechaduras, pois se recorda dos guardas fechando a cela, o que lhe traz recordações não muito agradáveis.

No Projeto Peixe-Boi Marinho conversamos com a Daniela Araújo, jornalista que nos apresentou a base e os trabalhos nela desenvolvidos, como a preservação do peixe-boi e o trabalho de educação ambiental com a comunidade da região e turistas que ali passam. Fernanda Niemeyer, veterinária que trabalha diretamente com a preservação do peixe-boi marinho nos contou do risco de extinção que a espécie corre e que toda a degradação ambiental da costa norte e nordeste do Brasil é muito grande uma vez que a maioria dos estuários está ameaçada pelas plantações de cana-de-açúcar, pelas fazendas de camarões, pela pesca de arrasto (industrial) e pela ocupação sem planejamento do litoral.
Um detalhe que chamou a atenção foi a fragilidade do peixe-boi marinho: quando a mãe vai procriar  procura os estuários por causa de suas águas calmas e teoricamente mais fáceis para a sobrevivência da cria. Mas o que acontece não é bem isto. Como estes se encontram degradados e assoreados a fêmea precisa ter o filhote no mar. Este então não consegue sobreviver pois os predadores são em maior número e também há maior probabilidade  de perder-se da mãe, ficando sem poder mamar e morrendo.

Por fim estivemos com um casal, que encontramos por acaso, o Marcelo e a Denise. Eles estão viajando em um ônibus movido a biodiesel há mais de 10 anos, ele ex-empresário e ela artista mais a filha Brisa, de 7 anos. Conversamos bastante com eles em seu ônibus sobre sustentabilidade, trocamos e-mail e marcamos de nos encontrarmos por aí. Saímos de Itamaracá ressentidos com a degradação do litoral norte de Pernambuco, mas felizes em encontrar pessoas com coragem para assumir uma forma de viver em harmonia com a natureza, e que pensam também nas gerações futuras.