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Saquarema e um pouco de geomorfologia costeira…

admin | 4 de março de 2008

Pouca gente pode imaginar que a apenas 100 km do belo e agitado Rio de Janeiro podemos encontrar uma cidadezinha tão pacata como Saquarema.
De aspecto interiorano, tem na Igreja de Nossa Senhora de Nazaré (1630), a padroeira da colônia de pescadores locais, o seu cartão postal.
Construída no alto de uma rocha à beira-mar, este mirante natural nos permite contemplar a Lagoa de Saquarema ao norte; a leste e a oeste as praias de Itaúnas e da Vila, respectivamente, e ao sul um imenso oceano que estoura as suas ondas violentas nas rochas, abrandado somente pela paz que emana da igrejinha lá do alto, que assiste ao espetáculo impassível.
Este acidente geográfico (costões rochosos) é o local privilegiado (estratégico) para entendermos um pouco a natureza de Saquarema e região.
Olhando o litoral (tanto a leste como a oeste) do alto do morro quase que o perdemos de vista. A oeste, uma única praia que recebe vários nomes (Vila, Saquarema e Jaconé) e vai até Ponta Negra (20km).
As praias têm areias brancas. São finas na parte superior e grossas onde estouram ondas fortíssimas neste mar aberto. A leste, a mesma paisagem, sendo que a distância da praia duplica, 40km, formando a majestosa Restinga de Massambaba.
Este mar aberto e impetuoso (grandes ondas) foi responsável pelas características quase que perfeitas para a prática do surf na região, principalmente nas proximidades das rochas, onde as ondas tomam forma e constância. A existência dessas ondas foi o principal motivo que fez de Saquarema “a capital do surf brasileiro”. Desde a década de 70 campeonatos nacionais e internacionais são ali disputados, o que torna a pacata Saquarema um pouco mais agitada nestes dias.
Olhando a imensidão desse litoral a impressão que temos é de que tudo sempre foi assim, do jeito que vemos agora. Mas a natureza na sua longa e paciente obra teve e continua a ter um longo trabalho para que as coisas chegassem a este estágio.
Quando os continentes se formaram há milhões de anos atrás, resultado da divisão de um único e grande continente chamado Pangea, o afastamento do continente africano do americano originou o Oceano Atlântico e a Serra do Mar.
Durante estes milhões de anos a Serra do Mar sofreu um processo incessante de erosão (desgaste) de suas rochas e esse material foi sendo transportado pelas chuvas, ventos e rios para as áreas mais baixas formando assim o que denominamos de planície costeira.
As planícies costeiras podem ter áreas com características diversas formando então ecossistemas tais como: praias, restingas, dunas, manguezais, lagoas, etc. No caso de Saquarema dois desses ecossistemas destacam-se: as restingas e as lagunas.
Observando uma foto de satélite, ou mesmo um mapa comum, percebemos que a região que vai de Saquarema até Cabo Frio é dominada tanto pela Lagoa de Araruama como pela Restinga de Massambaba. A origem das duas está intimamente relacionada.
Há milhares de anos atrás a Restinga de Massambaba, que separa Saquarema de Arraial do Cabo, como também onde é hoje a Praia do Foguete em Cabo Frio, não existiam. O mar, portanto, avançava suas ondas até onde hoje estão as cidades de Araruama, Iguaba Grande e Pequena e São Pedro da Aldeia, localizadas no fundo da Lagoa de Araruama.
Três pontos foram fundamentais para a formação da Restinga de Massambaba e da Praia do Foguete. As formações rochosas de Cabo Frio, Arraial do Cabo (Pontal do Atalaia) e Saquarema.
As correntes marítimas, ajudadas pelos ventos, aproveitaram-se destas “bases rochosas” e durante milhares de anos depositaram ali as areias do fundo do mar que ao interligarem-se formaram então as restingas. As variações do nível do mar contribuíram também para isso.
Estas restingas foram, aos poucos, isolando aqueles antigos braços de mar e formaram a imensa lagoa de Araruama como também a lagoa de Saquarema. Basta lembrar que em tupi-guarani Saquarema significa “lagoa sem concha”, talvez uma comparação que estes indígenas faziam com a lagoa de Araruama, plena de conchas em alguns trechos.
Estas lagoas de águas transparentes apresentam altíssimo grau de salinidade o que permite boiar com muita facilidade. São muito procuradas também para esportes a vela já que o vento ali é quase constante.
Foram as restingas, com praias e lagoas, que criaram o que hoje denominamos de “região dos lagos fluminenses”, onde além do lazer, a indústria salineira, apesar do declínio que vem sofrendo, ainda faz parte da paisagem.
As restingas, apesar do solo arenoso, estão sendo cada dia mais destruídas pela especulação imobiliária. Basta lembrar que os bairros de Capacabana, Ipanema e Leblon, na cidade do Rio de Janeiro, estão localizados em área de restinga.
Mas se você quiser fazer uma bela caminhada e conhecer uma das mais belas restingas da litoral brasileiro, aconselhamos o trecho que vai da localidade de Figueira (a 30 km de carro por estrada de terra batida a leste de Saquarema) até Arraial do Cabo.
Ali você estará no trecho mais estreito da restinga e há possibilidade de observar tanto o mar como a lagoa.
A caminhada para Arraial do Cabo em principio é feita em praia inclinada e com areia fofa (o que dificulta a caminhada) mas aos poucos a praia fica plana, a areia batida e começamos a entrar num outro mundo, os das imensas dunas brancas e das águas frias e transparentes de Arraial do Cabo.

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Saquarema do surf, do rock e Nossa Senhora de Nazaré!

admin | 3 de março de 2008

Saquarema

Ao contrário de Bacaxá, que praticamente virou “um bairro da Baixada Fluminense” em Saquarema nos sentimos ainda fora de toda pressão da urbanidade do Rio de Janeiro. A cidade tem na Igreja de Nossa Senhora de Nazaré (1630) a sua maior referência. Localizada no alto de uma rocha à beira mar tem um cemitério que longe de mórbido traz uma paz intensa. Dali do alto temos uma visão completa da já bastante poluída Lagoa de Saquarema ao norte, do imenso oceano ao sul e das praias da Vila a oeste e Itaúnas a leste.

Mica

Saquarema sempre foi sinônimo de surf e ali conversamos com o Mica, nativo e hoje surfista profissional. Concordou com o Alexandre de Búzios dizendo que também ali já não sobem grandes e boas ondas como antes. Depois de 10 anos voltamos a encontrar com o nosso ídolo Serguei.

Serguei

Aos 74 anos de idade o roqueiro (e chega desta história de lenda viva do rock!) esta a todo vapor e nos impressiona pela energia e determinação com que dirige o Templo do Rock (Avenida Vilamar s/n Itaúna – Saquarema – RJ, CEP: 28990-000 e fone: 22-26518134) que fica (e é!) sua bela e confortabilíssima própria casa. Já que Serguei é uma estrela nada como uma boa fofoca: no dia que fomos visitá-lo o roqueiro estava escutando um jazz, da melhor qualidade, como tudo que faz… Para concluir: Serguei está para Saquarema assim como Bardot para Búzios!

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Cabo Frio e Arraial do Cabo: sal e sol!

admin | 1 de março de 2008

Cabo Frio pode ser considerada a “capital” da região dos lagos fluminense, tanto pela sua infra-estrutura como pelas suas belezas naturais.
Além de Cabo Frio uma outra cidade bem próxima ajuda a completar este cenário de rara beleza. É Arraial do Cabo, uma antiga aldeia de pescadores cercada de natureza por todos os lados.
Na região encontramos ecossistemas (praias, restingas, dunas, ilhas, costões rochosos e lagoas), paisagens criadas pelo homem (salinas e sambaquis) como também o curioso fenômeno da ressurgência.
Os costões rochosos onde estão localizados Cabo Frio e Arraial do Cabo (Pontal do Atalaia) foram os pontos aglutinadores para que as correntes marinhas e os ventos fossem depositando ao longo desses milhares de anos areias que viriam a formar o que hoje chamamos de Praia do Forte, Dunas e Foguete.
As ilhas, como a de Cabo Frio, dos Porcos, Papagaio, Comprida, Pargos, entre outras, nada mais são do que picos rochosos de antigas montanhas que com o movimento de transgressão (subida) do mar foram submergidas deixando à monstra na superfície estas ilhas.
A região é bem conhecida pelas suas águas verdes – azuis transparentes, o que pode ser explicado por três motivos:
1) observando no mapa percebemos que desde a Baia de Guanabara até Barra de São João (Rio – São João) não encontramos nenhum grande rio que deságüe nessas praias. Isto significa que pouco sedimento (barro) é transportado para o fundo do mar, fazendo com que as águas da região fiquem mais claras.
2) a região é basicamente composta por rocha cristalina cuja decomposição forma areia, ou seja, estas tornam as águas bem menos turvas que o barro.
3) O mar na região é bem mais profundo tornando a possibilidade desses sedimentos serem removidos e de escurecer menos as águas.
Mas as águas verde-azuis são bastante conhecidas também por uma característica que para alguns não é tão agradável. O frio!
Um fenômeno natural chamado de ressurgência ocorre na costa de Cabo Frio e Arraial do Cabo. São águas frias que vem das profundezas do oceano até a superfície. São ricas em nutrientes e extremamente importantes para o crescimento de organismos marinhos, principalmente os peixes. A existência das águas frias nesta região faz com que ocorra um grande número de espécies marinhas.
Mas, Arraial do Cabo, que sempre foi conhecida como uma produtiva vila de pescadores tem visto o seu peixe desaparecer. A responsabilidade é por conta da pesca predatória praticada por barcos industriais a menos de três milhas da costa (área de pesca artesanal).
Por este motivo foi criada a RESEX (reserva extrativista) de pesca artesanal marinha de Arraial do Cabo. O objetivo principal e proteger os pescadores artesanais e combater a pesca predatória dentro dos limites da RESEX.
Com a RESEX espera-se preservar a população tradicional de pescadores locais como também a qualidade de vida destes pescadores e de suas famílias.
As águas frias são responsáveis também (indiretamente) por um fenômeno humano muito peculiar a esta região que são as salinas.
Verificando no mapa, observamos que a ligação entre Cabo Frio e Arraial do Cabo é feita por uma “restinga” bem mais larga do que aquela que liga Arraial do Cabo a Saquarema (Massambaba). Ali, estão localizadas as maiores salinas da região.
Ora, as salinas necessitam de pelo menos quatro fatores para que elas ocorram (se instalem): 1) águas rasas e abrigadas; 2) alta temperatura; 3) pouca chuva; 4) ventos constantes.
A região é perfeita para isso já que a Lagoa de Araruama é muito rasa e obviamente abrigada do mar pela restinga.
As três outras condições estão praticamente interligadas. Como sabemos, o vento é o ar em movimento, e ele sopra sempre das AP (altas pressões) – frio para as BP (baixas pressões) – quente. Sendo assim a diferença de temperatura do mar (frio) para o continente (quente) provoca na região ventos fortes e constantes (nordeste) que ajudam na evaporação das salinas. A região tem um índice pluviométrico muito baixo que também favorece as salinas, já que o excesso de chuva atrapalha a produção do sal.
Mas, as belas e poéticas paisagens das salinas, com seus cercados, cataventos e montanhas de sal estão por desaparecer da região já que o setor está em crise e não pode competir com a especulação imobiliária.
Um outro fenômeno natural de grande beleza, e também altamente ameaçado pela especulação imobiliária, porém, resiste!
São as dunas, marca registrada de Cabo Frio e Arraial do Cabo.
As dunas se formam em conseqüência da deposição de areias pela ação do vento. Cada formação de duna é correspondente às características geográficas de cada lugar. Sua formação pode depender da força e direção dos ventos, das correntes marinhas, da localização da área atingida como também de fatores relacionados à ocupação humana, quando se provoca um desmate, por exemplo.
A ocupação desordenada tanto da restinga como das dunas pode provocar uma perda irreparável de uma relíquia arqueológica inestimável, os sambaquis.
O litoral brasileiro foi ocupado por grupos humanos (indígenas) desde cerca de 6000 anos AC. (antes de Cristo). Grupos sucessivos percorreram a costa brasileira fixando-se temporariamente à beira – mar até a época do Descobrimento. Concentravam-se de preferência em áreas com recursos naturais abundantes. Pescavam, coletavam mariscos e vegetais e também caçavam. Os sambaquis – tambá (concha) e ki (depósito) em tupi-guarani – são a prova concreta da passagem desses grupos de pescadores, coletores e caçadores pela região, principalmente na Restinga de Massambaba, que liga Arraial do Cabo a Saquarema.
Os sambaquis são pequenas elevações formadas por tudo aquilo que indique evidência da ação do homem. São restos alimentares animais (carapaça de moluscos, pinças de crustáceos, ossos de animais) e vegetais (sementes). Esqueletos humanos, utensílios de pedra, ossos, conchas e cerâmica além de restos de fogueiras também são componentes dos sambaquis.
A partir destes restos materiais podemos reconstituir como viviam estas sociedades primitivas já desaparecidas. Os estudos desses sambaquis são interdisciplinares envolvendo desde arqueólogos até zoólogos.
Estes estudos objetivam responder à seguinte questão. Como viviam estes povos e como era o ambiente pré-histórico?
Entendendo o nosso passado talvez possamos encontrar algumas chaves para o nosso futuro.
No caso dos sambaquis a questão da preservação é mais dramática. Um monumento arquitetónico pode ser reconstituído, recuperado, já um sambaqui não, sua perda é irreparável!
Projetos de pesquisa e preservação são desenvolvidos pelo Museu Nacional – Universidade Federal do Rio de Janeiro – nos sambaquis da Restinga de Massambaba.

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