Lençóis Maranhenses – 10 anos atrás!
admin | 7 de agosto de 2007Nossa chegada em São Luís do Maranhão, a capital do estado nordestino com o maior número de unidades de conservação foi plena de ansiedade. Na parte leste do estado as dunas e as restingas predominam sendo que o extraordinário e único Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses – PNLM – era nosso objetivo maior .
Para conhecer o parque é preciso muita atenção, cuidado e respeito! Não é o tipo do lugar onde você pode ir aventurando – se sozinho. Exige o acompanhamento de um guia ou de um nativo com conhecimento comprovado da área. Imagine 70 km de litoral por até 30 km de dunas e lagoas verde-azuladas avançando continente adentro. E o mais incrível, esta beleza repete-se a todo o momento. Não há outro referencial a não ser o sol, a lua e o vento. Por mais que você tente encontrar a duna mais alta para poder achar o mar ou as pastagens, encontrará sempre uma outra duna… Por isto que entrar no interior dos Lençóis exige toda esta precaução.
O PNLM é um fenômeno único no litoral brasileiro e no mundo. São 155 mil hectares de dunas. A primeira vista poderíamos imaginá-lo como qualquer outro deserto do mundo, o Saara incluído. Mas o que torna o PNLM único é que ali chove 300 vezes mais do que no Saara e isto produz um fenômeno indescritível. As chuvas, que caem basicamente no primeiro semestre, o que eles chamam de “inverno”, enchem as lagoas. Entre maio e junho já no final do período chuvoso é que as lagoas costumam transbordar formando um fenômeno muito interessante. São as “cachoeiras” na areia, águas de lagoas muito cheias que vazam para outras.
É bem verdade que no interior do nosso Saara também encontramos oásis. A Queimada do Brito e a Baixada Grande são comunidades onde as pessoas não têm luz e muitas nunca viram um carro, uma televisão ou qualquer coisa que não tenha sido trazida por gente de fora. Vivem da agricultura de subsistência (mandioca), criação de patos e galinhas, caprinos e alguns arriscam dar um pulinho até a praia (24 km ida e volta!), para pescar.
Aqui tivemos a oportunidade de acampar e conhecer o saudoso seu Brito. Era o patriarca da comunidade que levava seu nome e o pouco tempo que passamos juntos nos deu a oportunidade de aprender algumas coisas. Deitado em sua rede não economizava o sorriso, sempre fazendo uma gozação, uma brincadeira com os da cidade. Não gostava de ser fotografado. Num mundo em que a imagem comanda e todos se curvam, o seu Brito ficava ali na sua rede como se dissesse “deixa eu ficar aqui no meu canto sossegado…”
Seguimos caminho pois iríamos dormir na praia para seguir caminho até Travosa no dia seguinte,vila no extremo oeste do PNLM. Nosso guia foi o João, pescador que estava passando um tempo na Queimada. Tinha uma faixa na perna, mas caminhava forte subindo e descendo dunas iluminado pela lua cheia. Falava pouco e não largava sua garrafinha de plástico que no início pensávamos ser água. Finalmente, depois de atravessarmos uma faixa imensa com água pelos joelhos chegamos à praia. Achamos uma cabana de pescadores abandonada e optamos em pernoitar ali. Convidamos João para descansar um pouco, já que ele teria de retornar ao Brito ainda naquela noite. Foi então que ficamos sabendo de suas histórias. João tinha, junto de alguns colegas pescadores, naufragado há tempos atrás e ficado dois dias boiando em mar alto até ser resgatado. A bebida que levava nas mãos, não era água, e sim tiquira, uma aguardente feita da casca da mandioca! E foi ela que embalou nosso papo noite adentro!
O Parque vem sendo cada vez mais visitado por turistas, principalmente aqueles ligados ao turismo ecológico, científico e de aventura. Toda esta beleza envolve desde dunas e lagoas, fauna e flora, além das comunidades que ali existem e vivem em estreita harmonia formando porém um ecossistema muito frágil.
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